Em Outubro de 2010 a Vogue Portuguesa (sim, essa mesma) saiu com um artigo de Miguel Somsen que se intitulava : "De boas maneiras está o céu cheio". Ora eu achei-o muito bem escrito e muito(mas muito)pertinente.
Não sei se é só comigo, mas tenho um problema nas filas das lojas. Tentam sempre ultrapassar-me ou então muito pouca gente sabe o que significa fila única e respeitar o seu lugar e azar dos azares cruzam-se todos comigo!!
Quando não é nas filas das lojas é por outros lados (tipo taxistas que pensam que têm o rei na barriga), mas o melhor é mesmo pensar-se que a malta lá porque tem posição ou é universitária é mais educada e respeitadora(nada disso, iguaizinhos aos outros todos!).
Para quem não leu o artigo, o autor começa por falar de um amigo a quem reconhece "lisura, polimento e formação" que pede a Somsen indicações de restaurantes e depois do mesmo os fornecer o amigo nunca agradece no dia seguinte!
É de mau tom, sem dúvida. Esta situação e muitas outras são constantes no meu dia-a-dia e a mim chocam-me. Pensava eu ser a única, quando o Miguel Somsen me vem tirar um peso de cima. Isto porque sou conhecida por ser muito intolerante com atrasos e falta de educação(isto é o que me dizem, eu não acho que seja assim tão intolerante (típico) e juro solenemente que trabalho arduamente para mudar essa característica).
A verdade é que não me agrada nada pessoas que combinam encontros ou compromissos e chegam atrasadas ou nem aparecem!!
Há dias combinei uma visita ao Museu do Oriente com uma colega do curso para vermos in loco uma peça que estamos a estudar. Combinámos às 10h no Cais do Sodré, 10h10 quando eu cheguei,(já dei um desconto, para verem que nao sou assim tão rigída) telefonei-lhe."Ah e tal tive de ir à Universidade e ainda estou no Campo Pequeno" silêncio do meu lado. " Mas demoras muito?" ao que a caríssima me responde:"20 minutos e estou aí!"
Eram 10h48 (precisamente) quando desisti de esperar e lhe telefonei (afinal ainda estava na Alameda!) o agravante desta situação toda é que eu tinha um comboio para apanhar para o Porto às 15h e esse não espera por mim de certeza.
Lá tive que desistir do encontro, amaldiçoei-a, disse que era uma irresponsabilidade, perdi uma manhã de trabalho e nada, nem visita nem nada.
A jovem na realidade é uma querida e eu respirei bem fundo e quando a encontrei pessoalmente (2 semanas depois, o que também ajudou) lá lhe fiz ver de uma forma polida e delicada que o facto de se ter atrasado e consequentemente nem ter aparecido, para ela podia não significar nada, mas estava outra pessoa envolvida(moi même)e que mexia com os meus compromissos. "Ai desculpa...bla bla bla Whiskas saquetas".
Segundo o que o Miguel escreve é que existe uma individualidade cada vez maior. Que há uma perda de valores, de educação, mas que tais são urgentes recuperar, pois são eles que nos distinguem dos animais.
Ora eu não podia estar mais de acordo. Só pensamos em nós e na nossa barriga. Situação gera situação e se o vizinho do lado só pensa nele e isso consequentemente nos afecta, o mesmo pode acontecer com ele quando só pensamos em nós e por aí adiante.
No artigo aparece também uma psicóloga clínica que é a Isabel Feio que diz, que se ouve dizer, "para se ter boas maneiras, basta bom senso, o que não me parece suficiente." Não lhe parece a ela e a mim, já estou, esperem não estou nada! As boas maneiras estão mesmo entregues ao bom senso de cada um e ou é de mim ou ultimamente ele está escasso.
Depois passamos a outro tipo de problema que é um Homem que tenha atitudes cavalheirescas é parolo, ou bimbo (como preferirem) um que não as tenhas é um grosseiro. Coitados dos homens que daqui a pouco não sabem para que lado se viram!! Mas aí Paula Bobone(até aí por mim desconsiderada!) tem uma frase brilhante:" Um homem que não domine a arte cavalheiresca é boçal, bimbo. Quanto à tradição, é o que trazemos de trás. Mas a tradição tem de adaptar-se à evolução das coisas" Brilhante.
Depois passamos a um outro tipo de má educação(sim que isto há vários tipos) Isabel Feio já acima citada explica:" é comum colocar no mesmo saco boas maneiras e rituais de etiqueta; como se respeitar o próximo e saber qual o talher apropriado para o peixe fossem rigorosamente a mesma coisa. Na realidade, há um mundo enorme de diferenças entre uma e outra coisa, sendo que as boas maneiras são ingredientes que atravessam todos os níveis e grupos sócio-económicos."
Por fim, Somsen fala do que para mim são as novas formas da indelicadeza se manifestar que é esquecermo-nos do aniversário dos amigos(aqueles que não estão no Facebook, claro).
Penso que todos podíamos enumerar um sem fim de situações em que foram indelicados com a nossa pessoa ou até mal educados. Para mim, esses comportamentos andam aí (bem soltos) e manifestam-se de muitas formas, desde o insulto online só porque ninguém conhece e que na verdade tem implicações bem reais, ou do novo vocábulo que é "desamigar" e como diz Somsen, ainda não estão criadas as "regras de boa-educação" na plataforma onde passamos a maior parte do nosso tempo, as redes sociais(sim essa é uma nova!).
Todos achamos que o problema é dos outros e nunca nosso. Como diz o meu rapaz: o problema do mundo é todos acharmos que somos boas pessoas!!
Eu não me considero a melhor pessoa do mundo e tento sempre entender as razões que levaram alguém a ter determinada atitude, mas às vezes tenho mesmo que me mentalizar que não existe explicação é mesmo assim e pronto(complicado de entrar na minha cabecinha, mas aos poucos vai lá).
E não sou uma mártir (ando lá perto) mas sou de perder o sono se sentir que determinada pessoa foi assim ou assado e será que fui eu que provoquei tal situação? Naaaaooo, simplesmente estão distraídos, ou não querem mesmo saber, não te ligam, passam-te à frente nas filas e se for preciso dizem: "Também vou pagar!". Querida eu sei que vai pagar, mas a fila é única e eu cheguei primeiro, eu e aquelas 3 pessoas! Calma.
Quanto ao artigo por favor o Miguel Somsen pode colaborar de novo com a Vogue Portugal? Tenho cá para mim que ele até é capaz de escrever sobre a elegância dos macacos a comerem bananas. Mas foi dos melhores colaboradores que já vi passar pela revista.
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